A rivalidade entre as gravadoras latinas ameaçou tirar o brilho da celebração
Quando a Academia de Artes e Ciências da Gravação anunciou que a partir do ano 2000 entregaria o Prêmio Grammy Latino, os meios aplaudiram a decisão e anteciparam que o espetáculo seria muito bem recebido pelo público hispânico. Porém como todo espetáculo de tão elevado perfil, o reconhecimento não chegou sem polêmica.
Uma vez que as nomeações foram divulgadas pela imprensa, tiveram que passar algumas semanas antes que alguém se queixasse de favoritismos. Contudo, somente aqueles que não sabem contar poderiam haver passar por cima das seis categorias nas quais Emilio Estefan, um dos produtores com maior influência na indústria da música latina e principal impulsor do Grammy Latino, havia sido nomeado.
Além de todas as nomeações com as quais o distinguiu, Estefan recebeu o primeiro reconhecimento da Academia Latina de Artes e Ciência da Gravação (LARAS) como ‘Personalidade do Ano’. Para complicar ainda mais as coisas, Carlos Vives, produzido por Estefan, também aspirava à outros seis prêmios e Shakira, outra de seus artistas, à quatro.
A disputa chegou pela mão da gravadora mexicana, Fonovisa, que acusou LARAS de marginalizar a música regional mexicana, que apesar de representar 60 por cento das vendas da música latina nos Estados Unidos, contou apenas com 5 nomeações entre 40 categorias. “Isto é uma festa entre Emilio Estefan e a casa discográfica Sony” declarava Gilberto Moreno, diretor da Fonovisa, ao diário californiano La Opinión.
“Este é um evento de Estefan e não queremos levar nossos artistas a um show como este”, afirmou o executivo, em cuja gravadora figuram Marco Antonio Solís, Los Tigres del Norte e Los Temerários – nenhum dos quais se apresentou na primeira edição destes prêmios. Segundo Moreno, LARAS favoreceu os artistas pop e baladeiros dos selos EMI e Sony, dos quais Estefan é executivo.
As reações
Adaro Sadler, representante do LARAS, saiu à encruzilhada de acusações de Moreno afirmando, “nós não pedimos desculpas pelo fato de que nós membros nomeamos Emilio ou porque recebeu seis nomeações”. Sadler sublinhou ainda que o produtor cubano-americano não tem nenhum rol em determinar quem ganha os prêmios ou atua no evento.
A poucos dias e fazendo-se eco das declarações de Sadler, o cantor-compositor dominicano Juan Luis Guerra defendeu publicamente Estefan, declarando que é razoável que uma grande gravadora como Sony tenha mais nomeações. “Querer tirar o mérito de pessoas que o tem não vale a pena”, agregou o cantor.
Finalmente, o próprio Estefan não pode ignorar mais o escândalo e viu-se obrigado a responder as críticas. O principal promotor destas premiações mostrou-se surpreendido pelas acusações de Fonovisa. “Surpreende-me que certas gravadoras e certas pessoas estejam atacando-me quando o que deveriam fazer é informar-se sobre o funcionamento interno da Academia”, disse Estefan.
Assim, este intercâmbio de ataques e acusações cruzadas ameaçaram estragar o que seria a festa da indústria musical latina e a influência social de um acontecimento desta magnitude. Ainda com a ausência dos artistas regionais mexicanos, a primeira entrega do Prêmio Grammy Latino resultou ser a celebração da cultura e da diversidade latina nos Estados Unidos.
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